- Raphael Uba de Faria
As Batalhas dos Gênios
Leonardo da Vinci e Michelangelo Buonarroti são dois dos maiores gênios artísticos da história da humanidade. Juntos, produziram obras das mais marcantes do período renascentista, dentre as quais, aquelas que são consideradas o ponto máximo do período: A Última Ceia, do primeiro e A Pietà, do segundo. Durante suas vidas, acabaram se encontrando algumas vezes.

A Pietà, de Michelangelo
Nascido em 1452, em Anchiano, Leonardo já era um artista consagrado quando Michelangelo, 23 anos mais jovem, e natural de Caprese, começou a se destacar. Em dado momento, ambos viviam em Floresça e da Vinci era dono de um ateliê. Era comum que outros artistas, como seu amigo Botticelli e Rafael fossem até lá admirar seus trabalhos. Sabe-se que, ao menos uma vez, o jovem Michelangelo foi ao local, para ver a Madona do Fuso. Também é fato conhecido que da Vinci admirava as criações de seu par, sobretudo as esculturas. Mas o respeito e admiração eram velados pois eles se odiavam.

A Última Ceia, de Leonardo da Vinci, no Convento de Santa Maria della Grazie
Fonte: http://www.milaonasmaos.it/como-visitar-a-santa-ceia/
Segundo os biógrafos Leonardo era belo, de fala fácil, popular, adorava estar rodeado por pessoas e tinha uma mente inquieta, que não lhe deixava focar no trabalho por muito tempo - tanto que concluiu poucas obras. Por sua vez, Michelangelo era desleixado, quase recluso, rude - tanto na aparência quando no trato com as pessoas - e, quando trabalhava, desligava-se do mundo e vivia em função de sua obra. Quando se encontravam, provocações eram comuns. Leonardo, por exemplo, sabendo das qualidades de Michelangelo como escultor, sempre que podia, afirmava que a pintura era uma arte superior, enfurecendo o outro. Quando um grupo de artistas selecionados indicou um
local protegido (e menos visível) para posicionar seu David, Michelangelo, que queria colocá-lo na praça principal, culpou apenas Leonardo, xingando-o publicamente. Mas tudo degringolou de vez quando ambos foram contratados para pintar duas paredes no Palazzo della Signoria, em Florença... Uma de frente para a outra.

Cópia da Batalha de Anghiari, feita por Peter Paul Rubens
Da Vinci instalou-se em 1504, para pintar a Batalha de Anghiari. O esboço que fez na
parede, atraiu a atenção de pessoas comuns e artistas, que não hesitaram em fazer cópias. Discretamente, Michelangelo também fez a sua. Mas Leonardo escolheu uma mistura de óleos problemática (muito similar à de A Última Ceia) e quando começou a pintar, Florença foi atingida por uma tempestade, a água entrou no palácio e a tinta, que já não secava bem, se desprendeu. Durante a reconstrução, em 1505, seu rival se instalou para pintar a Batalha de Cascina. E aí, começou a confusão!

Cópia da Batalha de Cascina, feita por Aristotele da Sangallo
Para fazer sua mistura secar mais rápido, Leonardo acendeu fogueiras e queimou o que pode. O cheiro ficou insuportável e Michelangelo reclamava constantemente. As brigas eram diárias. Ele, por sua vez, esforçava-se ao máximo para terminar sua obra antes de Leonardo, que continuava experimentando misturas diferentes de óleos na tentativa desesperada de salvar seu afresco, mas era tarde demais e ele acabou o abandonando.
Quando a vitória parecia certa, os Médici, que haviam comandado a cidade no passado, voltaram ao poder, causando tumultos. Temendo por sua vida - já que era amigo da família - Michelangelo também abandonou sua Batalha e fugiu para Roma... A obra acabou destruída por rebeldes opositores. Hoje, tudo o que resta são cópias das duas obras inacabadas, feitas por outros artistas.